Gripe Aviária de 2025 no Brasil: Impactos Expandidos no Mercado de Alimentos e Economia
- Editora ExtremaTM
- 9 de jun.
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Em maio de 2025, o Brasil enfrentou um marco preocupante com a confirmação do primeiro caso de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial em Montenegro, Rio Grande do Sul, encerrando seu status de país livre da doença em plantéis comerciais. O surto, seguido por outro caso no zoológico de Sapucaia do Sul, gerou alertas sobre a segurança alimentar, a cadeia de abastecimento e a economia nacional. Com mais de 30 países, incluindo China, União Europeia e Argentina, suspendendo as importações de carne de frango brasileira, o impacto reverbera tanto no mercado interno quanto no global.
Este artigo analisa detalhadamente os efeitos no mercado de alimentos, os impactos econômicos, as ramificações para as cadeias produtivas e as medidas de contenção, oferecendo orientações para consumidores, produtores e policymakers.
Contexto do Surto
O vírus H5N1, conhecido por sua alta patogenicidade, foi identificado em uma granja de ovos férteis em Montenegro, resultando na morte de 15 mil aves e no sacrifício sanitário das demais no local. O segundo caso, detectado no zoológico de Sapucaia do Sul, reforçou preocupações sobre a transmissão entre aves silvestres e comerciais, um fator crítico para a disseminação do vírus. Como resposta imediata, mais de 30 países, que representam 35% das exportações brasileiras de frango, suspenderam importações, impactando diretamente a posição do Brasil como o maior exportador mundial de carne de frango, com 5,2 milhões de toneladas exportadas em 2024, gerando US$ 8,5 bilhões em receita.
As perdas econômicas iniciais são estimadas em US$ 1 bilhão, com projeções indicando que, se os embargos persistirem, o impacto mensal pode alcançar R$ 1,7 bilhão, segundo análises do BTG Pactual. Este cenário ameaça não apenas o setor avícola, mas também cadeias relacionadas, como a produção de grãos e a economia rural do Rio Grande do Sul, um dos principais polos agrícolas do país.
Impactos no Mercado de Alimentos
Carne de Frango
Curto Prazo (Junho-Julho 2025): A suspensão das exportações redirecionou o excedente de carne de frango para o mercado interno, reduzindo preços temporariamente. O IPCA-15 de maio de 2025 registrou uma desaceleração na inflação de alimentos, caindo de 1,29% em abril para 0,30%, impulsionada pela maior oferta de aves. O preço médio do frango inteiro caiu para R$ 7,50/kg em São Paulo, uma redução de 5% em relação a abril.
Médio Prazo (Agosto-Dezembro 2025): A destruição de plantéis e a redução na produção devido a abates sanitários devem pressionar os preços para cima. Projeções da Conab indicam uma alta de 7,6% nos preços de alimentos até o final de 2025, com o frango podendo atingir R$ 9,00/kg no varejo. A menor demanda por ração, composta principalmente por milho e soja, também pode encarecer esses insumos, impactando indiretamente outros setores.
Ovos
Situação Atual: Globalmente, os preços dos ovos dispararam, com os Estados Unidos registrando US$ 4,95 por dúzia em janeiro de 2025 devido a surtos semelhantes. No Brasil, a oferta excedente resultante dos embargos mantém os preços estáveis, com a dúzia de ovos brancos cotada a R$ 6,50 no atacado. No entanto, a destruição de 70 mil ovos férteis em Montenegro compromete a reposição de aves, criando um risco de escassez.
Perspectiva Futura: A partir de setembro, a oferta de ovos pode diminuir, elevando os preços em até 15%. A interrupção na produção de ovos férteis também afeta a cadeia de reposição de frangos, agravando a pressão sobre os preços no longo prazo.
Outras Proteínas
Efeito Substituição: A queda nos preços do frango tem levado consumidores a optar por essa proteína em detrimento da carne bovina e suína, reduzindo temporariamente seus preços no mercado interno. O preço da carne bovina (coxão mole) caiu 3%, para R$ 38/kg, enquanto a carne suína (lombo) recuou 2,5%, para R$ 25/kg. Essa dinâmica deve se normalizar a partir de julho, quando a produção avícola começar a se recuperar.
Impactos Indiretos: A menor demanda por frango pode reduzir a pressão sobre os estoques de carne bovina e suína, mas a retomada das exportações pode reverter essa tendência, elevando os preços no segundo semestre.
Cadeia Produtiva
Produção de Grãos: A redução na produção avícola diminui a demanda por milho e soja, que representam 70% do custo de produção de ração. Isso impacta diretamente pequenos agricultores no Rio Grande do Sul, que enfrentam perdas estimadas em R$ 500 milhões mensais. A safra de milho, projetada em 120 milhões de toneladas para 2025, pode sofrer com preços estagnados no mercado interno.
Impacto nas Empresas: Gigantes como JBS e BRF enfrentam desafios significativos, com quedas projetadas de 10-15% em suas receitas de exportação. Pequenos avicultores integrados a essas empresas também sofrem com a interrupção de contratos, reduzindo a renda em comunidades rurais.
Impactos Econômicos Amplos
Balança Comercial
As exportações de frango representam 1,5% do total das exportações brasileiras, sendo um pilar da balança comercial. Um embargo prolongado pode gerar um déficit de US$ 2,5 bilhões em 2025, pressionando a cotação do real, que já acumula uma desvalorização de 27,34% em 2024. Essa depreciação eleva os custos de insumos importados, como fertilizantes, impactando toda a cadeia agrícola.
Economia Rural
O Rio Grande do Sul, responsável por 13% da produção nacional de frango, enfrenta um impacto econômico severo. A renda rural na região pode cair 15% em 2025, afetando cerca de 50 mil famílias ligadas à avicultura. A redução na demanda por grãos também compromete agricultores de milho e soja, que enfrentam dificuldades para escoar suas safras.
Inflação Alimentar
Embora a oferta interna de frango e ovos tenha reduzido a inflação no curto prazo, a contração na produção e os custos elevados de insumos podem impulsionar a inflação alimentar no segundo semestre. A projeção do Banco Central para o IPCA de 2025 é de 4,5%, mas analistas do mercado estimam que a pressão do setor avícola pode levar a uma revisão para 5%.
Efeitos Globais no Mercado de Alimentos
Como líder no mercado global de frango, o Brasil abastece 150 países, incluindo mercados críticos como China, Japão e Arábia Saudita. A interrupção nas exportações brasileiras já elevou os preços internacionais de aves, com o frango inteiro atingindo US$ 2,10/kg no mercado global, um aumento de 8% desde o início do surto. Concorrentes como Estados Unidos e Tailândia tentam preencher a lacuna, mas suas capacidades logísticas limitadas mantêm a segurança alimentar global em risco no curto prazo.
Países dependentes do Brasil, como o Japão, que importa 20% de seu frango do Brasil, enfrentam escassez potencial, enquanto a China, maior compradora, pode redirecionar suas compras para fornecedores alternativos, encarecendo os custos logísticos. Essa reconfiguração do mercado global pode levar a uma alta de 10-12% nos preços internacionais de aves até o final de 2025.
Medidas de Contenção e Perspectivas
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) implementou um plano emergencial para conter o surto, incluindo:
Abate Sanitário: Eliminação de todas as aves nas áreas afetadas, com indenizações aos produtores estimadas em R$ 10 milhões.
Desinfecção: Protocolos rigorosos de limpeza em granjas e aviários, com investimento de R$ 5 milhões em equipamentos e insumos.
Rastreamento: Monitoramento de 30 milhões de ovos férteis para evitar a disseminação do vírus, com apoio de laboratórios nacionais e internacionais.
Negociações Internacionais: O governo trabalha para regionalizar os embargos, limitando-os ao Rio Grande do Sul, e busca restabelecer o status de país livre da doença após 28 dias sem novos casos.
Medidas de Biossegurança
Para evitar futuros surtos, o MAPA reforçou os protocolos de biossegurança, incluindo:
Isolamento de aves comerciais de espécies silvestres, principais vetores do H5N1.
Monitoramento em tempo real de granjas em áreas de risco.
Treinamento de avicultores para identificação precoce de sintomas.
Perspectivas
Se não houver novos casos até o final de junho, o Brasil pode recuperar seu status de país livre da doença em julho, permitindo a retomada parcial das exportações. No entanto, a confiança dos mercados internacionais pode levar meses para ser restaurada, exigindo esforços diplomáticos e certificações sanitárias robustas.
Recomendações para Consumidores e Produtores
Consumidores
Consumo Seguro: Carne de frango e ovos cozidos a temperaturas acima de 70°C são seguros, pois o vírus H5N1 é eliminado pelo calor.
Planejamento de Compras: Aproveite os preços mais baixos de frango e ovos no curto prazo, mas estoque produtos não perecíveis, como leguminosas, para mitigar possíveis aumentos a partir de agosto.
Diversificação de Proteínas: Considere fontes alternativas, como peixes (tilápia a R$ 15/kg) ou leguminosas (feijão a R$ 6/kg), para reduzir a dependência de frango e ovos.
Produtores e Revendedores
Biossegurança: Invista em barreiras físicas e sanitárias para proteger plantéis, com custos médios de R$ 20 mil por granja para sistemas de contenção.
Mercados Alternativos: Explore mercados menos afetados pelos embargos, como África e Oriente Médio, que representam 10% das exportações brasileiras.
Gestão de Estoques: Ajuste a produção para evitar excedentes, priorizando parcerias com varejistas locais para escoar o frango no mercado interno.
Implicações para a Segurança Alimentar
O surto de gripe aviária expõe vulnerabilidades na segurança alimentar brasileira e global. No Brasil, a falta de estoques reguladores de grãos, como milho e soja, já compromete a resiliência do mercado interno. Globalmente, a dependência de poucos países exportadores, como o Brasil, destaca a necessidade de diversificação das cadeias de suprimento. Organizações como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) recomendam a criação de reservas estratégicas de alimentos para mitigar crises semelhantes.
Conclusão
O surto de gripe aviária de 2025 no Brasil representa um desafio multifacetado, com impactos que vão além do setor avícola, afetando a economia, a segurança alimentar e as cadeias produtivas. A oferta excedente de frango no mercado interno oferece alívio temporário nos preços, mas a redução na produção e os embargos internacionais ameaçam aumentar os custos de alimentos no segundo semestre. A resposta do governo, aliada a investimentos em biossegurança e negociações internacionais, será crucial para conter os danos e restaurar a confiança dos mercados globais. Para consumidores, produtores e revendedores, planejamento estratégico e diversificação são essenciais para navegar esse período de incerteza.





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