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Gripe Aviária de 2025 no Brasil: Impactos Expandidos no Mercado de Alimentos e Economia


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Em maio de 2025, o Brasil enfrentou um marco preocupante com a confirmação do primeiro caso de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial em Montenegro, Rio Grande do Sul, encerrando seu status de país livre da doença em plantéis comerciais. O surto, seguido por outro caso no zoológico de Sapucaia do Sul, gerou alertas sobre a segurança alimentar, a cadeia de abastecimento e a economia nacional. Com mais de 30 países, incluindo China, União Europeia e Argentina, suspendendo as importações de carne de frango brasileira, o impacto reverbera tanto no mercado interno quanto no global.


Este artigo analisa detalhadamente os efeitos no mercado de alimentos, os impactos econômicos, as ramificações para as cadeias produtivas e as medidas de contenção, oferecendo orientações para consumidores, produtores e policymakers.


Contexto do Surto

O vírus H5N1, conhecido por sua alta patogenicidade, foi identificado em uma granja de ovos férteis em Montenegro, resultando na morte de 15 mil aves e no sacrifício sanitário das demais no local. O segundo caso, detectado no zoológico de Sapucaia do Sul, reforçou preocupações sobre a transmissão entre aves silvestres e comerciais, um fator crítico para a disseminação do vírus. Como resposta imediata, mais de 30 países, que representam 35% das exportações brasileiras de frango, suspenderam importações, impactando diretamente a posição do Brasil como o maior exportador mundial de carne de frango, com 5,2 milhões de toneladas exportadas em 2024, gerando US$ 8,5 bilhões em receita.


As perdas econômicas iniciais são estimadas em US$ 1 bilhão, com projeções indicando que, se os embargos persistirem, o impacto mensal pode alcançar R$ 1,7 bilhão, segundo análises do BTG Pactual. Este cenário ameaça não apenas o setor avícola, mas também cadeias relacionadas, como a produção de grãos e a economia rural do Rio Grande do Sul, um dos principais polos agrícolas do país.


Impactos no Mercado de Alimentos

  1. Carne de Frango

    Curto Prazo (Junho-Julho 2025): A suspensão das exportações redirecionou o excedente de carne de frango para o mercado interno, reduzindo preços temporariamente. O IPCA-15 de maio de 2025 registrou uma desaceleração na inflação de alimentos, caindo de 1,29% em abril para 0,30%, impulsionada pela maior oferta de aves. O preço médio do frango inteiro caiu para R$ 7,50/kg em São Paulo, uma redução de 5% em relação a abril.

    Médio Prazo (Agosto-Dezembro 2025): A destruição de plantéis e a redução na produção devido a abates sanitários devem pressionar os preços para cima. Projeções da Conab indicam uma alta de 7,6% nos preços de alimentos até o final de 2025, com o frango podendo atingir R$ 9,00/kg no varejo. A menor demanda por ração, composta principalmente por milho e soja, também pode encarecer esses insumos, impactando indiretamente outros setores.


  2. Ovos

    Situação Atual: Globalmente, os preços dos ovos dispararam, com os Estados Unidos registrando US$ 4,95 por dúzia em janeiro de 2025 devido a surtos semelhantes. No Brasil, a oferta excedente resultante dos embargos mantém os preços estáveis, com a dúzia de ovos brancos cotada a R$ 6,50 no atacado. No entanto, a destruição de 70 mil ovos férteis em Montenegro compromete a reposição de aves, criando um risco de escassez.


    Perspectiva Futura: A partir de setembro, a oferta de ovos pode diminuir, elevando os preços em até 15%. A interrupção na produção de ovos férteis também afeta a cadeia de reposição de frangos, agravando a pressão sobre os preços no longo prazo.


  3. Outras Proteínas

    Efeito Substituição: A queda nos preços do frango tem levado consumidores a optar por essa proteína em detrimento da carne bovina e suína, reduzindo temporariamente seus preços no mercado interno. O preço da carne bovina (coxão mole) caiu 3%, para R$ 38/kg, enquanto a carne suína (lombo) recuou 2,5%, para R$ 25/kg. Essa dinâmica deve se normalizar a partir de julho, quando a produção avícola começar a se recuperar.

    Impactos Indiretos: A menor demanda por frango pode reduzir a pressão sobre os estoques de carne bovina e suína, mas a retomada das exportações pode reverter essa tendência, elevando os preços no segundo semestre.


  4. Cadeia Produtiva

    Produção de Grãos: A redução na produção avícola diminui a demanda por milho e soja, que representam 70% do custo de produção de ração. Isso impacta diretamente pequenos agricultores no Rio Grande do Sul, que enfrentam perdas estimadas em R$ 500 milhões mensais. A safra de milho, projetada em 120 milhões de toneladas para 2025, pode sofrer com preços estagnados no mercado interno.


    Impacto nas Empresas: Gigantes como JBS e BRF enfrentam desafios significativos, com quedas projetadas de 10-15% em suas receitas de exportação. Pequenos avicultores integrados a essas empresas também sofrem com a interrupção de contratos, reduzindo a renda em comunidades rurais.


Impactos Econômicos Amplos

Balança Comercial

As exportações de frango representam 1,5% do total das exportações brasileiras, sendo um pilar da balança comercial. Um embargo prolongado pode gerar um déficit de US$ 2,5 bilhões em 2025, pressionando a cotação do real, que já acumula uma desvalorização de 27,34% em 2024. Essa depreciação eleva os custos de insumos importados, como fertilizantes, impactando toda a cadeia agrícola.


Economia Rural

O Rio Grande do Sul, responsável por 13% da produção nacional de frango, enfrenta um impacto econômico severo. A renda rural na região pode cair 15% em 2025, afetando cerca de 50 mil famílias ligadas à avicultura. A redução na demanda por grãos também compromete agricultores de milho e soja, que enfrentam dificuldades para escoar suas safras.


Inflação Alimentar

Embora a oferta interna de frango e ovos tenha reduzido a inflação no curto prazo, a contração na produção e os custos elevados de insumos podem impulsionar a inflação alimentar no segundo semestre. A projeção do Banco Central para o IPCA de 2025 é de 4,5%, mas analistas do mercado estimam que a pressão do setor avícola pode levar a uma revisão para 5%.


Efeitos Globais no Mercado de Alimentos

Como líder no mercado global de frango, o Brasil abastece 150 países, incluindo mercados críticos como China, Japão e Arábia Saudita. A interrupção nas exportações brasileiras já elevou os preços internacionais de aves, com o frango inteiro atingindo US$ 2,10/kg no mercado global, um aumento de 8% desde o início do surto. Concorrentes como Estados Unidos e Tailândia tentam preencher a lacuna, mas suas capacidades logísticas limitadas mantêm a segurança alimentar global em risco no curto prazo.


Países dependentes do Brasil, como o Japão, que importa 20% de seu frango do Brasil, enfrentam escassez potencial, enquanto a China, maior compradora, pode redirecionar suas compras para fornecedores alternativos, encarecendo os custos logísticos. Essa reconfiguração do mercado global pode levar a uma alta de 10-12% nos preços internacionais de aves até o final de 2025.


Medidas de Contenção e Perspectivas

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) implementou um plano emergencial para conter o surto, incluindo:

  • Abate Sanitário: Eliminação de todas as aves nas áreas afetadas, com indenizações aos produtores estimadas em R$ 10 milhões.

  • Desinfecção: Protocolos rigorosos de limpeza em granjas e aviários, com investimento de R$ 5 milhões em equipamentos e insumos.

  • Rastreamento: Monitoramento de 30 milhões de ovos férteis para evitar a disseminação do vírus, com apoio de laboratórios nacionais e internacionais.

  • Negociações Internacionais: O governo trabalha para regionalizar os embargos, limitando-os ao Rio Grande do Sul, e busca restabelecer o status de país livre da doença após 28 dias sem novos casos.


Medidas de Biossegurança

Para evitar futuros surtos, o MAPA reforçou os protocolos de biossegurança, incluindo:

  • Isolamento de aves comerciais de espécies silvestres, principais vetores do H5N1.

  • Monitoramento em tempo real de granjas em áreas de risco.

  • Treinamento de avicultores para identificação precoce de sintomas.


Perspectivas

Se não houver novos casos até o final de junho, o Brasil pode recuperar seu status de país livre da doença em julho, permitindo a retomada parcial das exportações. No entanto, a confiança dos mercados internacionais pode levar meses para ser restaurada, exigindo esforços diplomáticos e certificações sanitárias robustas.


Recomendações para Consumidores e Produtores

Consumidores

  • Consumo Seguro: Carne de frango e ovos cozidos a temperaturas acima de 70°C são seguros, pois o vírus H5N1 é eliminado pelo calor.

  • Planejamento de Compras: Aproveite os preços mais baixos de frango e ovos no curto prazo, mas estoque produtos não perecíveis, como leguminosas, para mitigar possíveis aumentos a partir de agosto.

  • Diversificação de Proteínas: Considere fontes alternativas, como peixes (tilápia a R$ 15/kg) ou leguminosas (feijão a R$ 6/kg), para reduzir a dependência de frango e ovos.


Produtores e Revendedores

  • Biossegurança: Invista em barreiras físicas e sanitárias para proteger plantéis, com custos médios de R$ 20 mil por granja para sistemas de contenção.

  • Mercados Alternativos: Explore mercados menos afetados pelos embargos, como África e Oriente Médio, que representam 10% das exportações brasileiras.

  • Gestão de Estoques: Ajuste a produção para evitar excedentes, priorizando parcerias com varejistas locais para escoar o frango no mercado interno.


Implicações para a Segurança Alimentar

O surto de gripe aviária expõe vulnerabilidades na segurança alimentar brasileira e global. No Brasil, a falta de estoques reguladores de grãos, como milho e soja, já compromete a resiliência do mercado interno. Globalmente, a dependência de poucos países exportadores, como o Brasil, destaca a necessidade de diversificação das cadeias de suprimento. Organizações como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) recomendam a criação de reservas estratégicas de alimentos para mitigar crises semelhantes.


Conclusão

O surto de gripe aviária de 2025 no Brasil representa um desafio multifacetado, com impactos que vão além do setor avícola, afetando a economia, a segurança alimentar e as cadeias produtivas. A oferta excedente de frango no mercado interno oferece alívio temporário nos preços, mas a redução na produção e os embargos internacionais ameaçam aumentar os custos de alimentos no segundo semestre. A resposta do governo, aliada a investimentos em biossegurança e negociações internacionais, será crucial para conter os danos e restaurar a confiança dos mercados globais. Para consumidores, produtores e revendedores, planejamento estratégico e diversificação são essenciais para navegar esse período de incerteza.

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